Péssima notícia: sua empresa está com os dias contados…

Os sinais estavam por aí há muito tempo. Quem enxergou e se preparou, definitivamente está em condições de sobreviver e prosperar. Aqueles que procrastinaram, enfiando a cabeça dentro de buracos iguais a um avestruz, irão desaparecer.

 

Cito alguns conceitos empresariais que estavam em estado vegetativo, respirando por aparelhos faz tempo, alguns mais de 20 anos, inclusive, mas que chegaram até 2020 em muitas empresas. Ousaria dizer que na grande maioria delas. E isso agora vai se mostrar fatal. O covid-19 desligou os aparelhos que mantinham esses conceitos vivos. Então você, empresário, gestor, que por autopreservação, ignorância ou desinteresse, manteve esses moribundos dentro da sua organização até aqui, fique sabendo que sua empresa está com os dias contados. Mudar exige tempo, e para a grande maioria dos negócios esse recurso não existirá.

 

O melhor que você pode fazer, por mais duro que isso possa parecer, é ir se despedindo do seu negócio. Mas se fosse possível realizar uma autópsia na sua empresa, ela revelaria a presença de algum ou vários desses tumores, processos degenerativos que estavam corroendo sua empresa por dentro. Mas nunca os chame de silenciosos, ok? Isso seria buscar conforto para sua incompetência. Seria como alegar que não sabia que o cigarro poderia te matar. A necessidade de atualizar os processos, evoluir a cultura, reinventar partes (ou todo) do seu negócio, desenvolver as lideranças, estava sendo alardeada aos gritos, para quem quisesse prestar atenção. Mas você preferiu acreditar que isso tudo eram modismos, infelizmente.

 

Por exemplo, a autopsia pode mostrar que seu fígado estava tomado pela “dinheirite”, ou incentivos exclusivamente financeiros. Você, apesar dos alertas, nunca modernizou ou atualizou seu Plano de Cargos e Salários, nunca repensou seus benefícios, nunca aceitou discutir ações que pudessem levar a uma cultura de engajamento pelo significado do trabalho, pelo propósito. Para você, as pessoas são movidas à dinheiro, e só. Quer gerar engajamento, abra a carteira. E para piorar, seus indicadores de desempenho focavam o individual, privilegiando alguns poucos “craques” em detrimento da equipe, ou muitas vezes premiando aqueles a quem você tinha mais afinidade. O Covid fez você descobrir que o time não estava feliz com você, bem na hora que você mais precisava. Ingratidão. 

 

Por falar em equipes, olha aqui no pâncreas, o tumor conhecido como “mesmice crônica”. Autonomia, criatividade, flexibilidade, auto responsabilização, tudo besteira, certo? No seu negócio o que funciona é hierarquia rígida, organogramas, subordinação, respeito. Quando o covid-19 chegou ficou bem complicado gerenciar à distância. Como ter certeza de que os colaboradores não estão “enrolando”? E onde estão aqueles colaboradores criativos, cheios de energia, que adoravam desafios e riscos, adaptáveis, agora que você precisa tanto deles? Lembre-se, você os demitiu sempre que tentavam algo fora das suas “regras e procedimentos”. O pâncreas colapsou.

 

Quando chegamos ao pulmão, completamente tomado. Anos e anos sofrendo de intoxicação por “treinamentite técnica”, que ocorre quando as empresas só acreditam em treinar as hard skills, as habilidades técnicas. Seus gestores poderiam ter se tornado ótimos líderes, mas certas habilidades, como comunicação assertiva, negociação, gestão de conflitos, feedback, gerenciamento do tempo, liderança situacional, isso tem que nascer com a pessoa, como você pensava. E se você investe neles e eles vão embora? Design Instrucional? Design Thinking? Gamification? Tudo onda passageira. O que funciona é o bom e velho método tradicional de treinamento, isso sim! Pois é…sua tradição paralisou seus pulmões.

 

E por fim, o coração. Todas as veias e artérias entupidas por placas chamadas “DPzite”. Muitas vezes você foi alertado sobre estatinas conhecidas como “gestão de pessoas”, “rh estratégico”, “rh protagonista”, que quando administradas regularmente, transformam as placas em vitaminas para o seu negócio. RH, para você, nunca deixou de ser uma área de apoio apenas, com colaboradores passivos, aguardando as demandas das “áreas importantes”, como Vendas e Financeiro. E olha que você havia lido o livro do Jack Welch (seu ídolo), em 2005 (15 anos atrás!), onde ele era claro: ou o RH se senta na mesa da estratégia e ajuda a definir os caminhos, ou o negócio não tem futuro.

 

As estatinas disponíveis há 15 anos e você as ignorou. Lembra quando seu pessoal de RH quis participar de visitas aos clientes? E quando falaram sobre pesquisa de clima? Você surtou quando propuseram realizar um Diagnóstico de Necessidade de Treinamentos! Gestão por competências? Metodologias ágeis? O pessoal de RH é remunerado para controlar o ponto, administrar a folha e gerenciar o vale-transporte, isso sim.

 

Talvez você não sofra de todos esses males acima, você até que foi “moderninho”, adotou algumas boas práticas de gestão de pessoas. Ou, como a grande maioria, permitiu que se instalasse a cultura da hipocrisia, esbravejando slogans sobre “pessoas em primeiro lugar”, mas acompanhadas de ações práticas no sentido contrário. A hipocrisia é o maior estimulador de descomprometimento. Grande parte dos programas de engajamento são superficiais, quando não são descaradamente manipulativos. Seja como for, você nunca formou equipes coesas.

 

E agora, com os médicos prestes a declarar morte cerebral, você está pensando: Como mudar essa cultura de comando e controle, rígida, inflexível, individualista, tradicionalista, com foco exclusivamente nos indicadores financeiros, em tão pouco tempo? Será que ainda dá? Por onde começo?

 

O covid veio mostrar que não há mais espaço para culturas organizacionais que não sejam focadas na confiança, na autonomia, na descentralização. Porque só através de significado você obtém real comprometimento, e só com alto nível de engajamento e comprometimento você obtém apoio para implantar mudanças. Foi o que o covid nos trouxe, necessidade de mudanças rápidas, de adaptação. Ele só acelerou a morte de empresas que sofriam de alguns males há muito tempo conhecidos. Se a partir de agora você não der atenção para as pessoas da sua organização em primeiro lugar, antes até do que aos seus clientes, nunca estará em boas condições de enfrentar as “futuras adaptações”, que com certeza virão. Viriam, se você não estivesse morto…

 

*Fábio Seghese, engenheiro com MBA em gestão de negócios e sócio da Humano Mais

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