Quando a pandemia começou no Brasil em meados de março, muitos de nós projetamos um cenário alarmante para o horizonte de 2-3 meses, no que se refere à saúde mental das pessoas, acreditando que após esse período todos se acostumariam ao “novo normal” e estariam “mentalmente adaptados”. Pois bem, má notícia. Quase nove meses depois, o fato é que nós estamos lutando mais, não menos, contra a ansiedade e a depressão. Por isso você precisa manter-se ainda mais atento à saúde mental de sua equipe.
No mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 300 milhões de pessoas sofrem com depressão e 260 milhões vivem com transtornos de ansiedade; o Brasil é considerado o país com maior número de pessoas nessa situação na América Latina, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). E questões psicológicas estão por trás da segunda maior causa de afastamento no trabalho.
Não à toa, a crise global de saúde, agitação política, incerteza econômica, aumento do desemprego, isolamento social, trabalho remoto, educação domiciliar e muito mais, têm causado implicações emocionais e psicológicas na população e já está sendo chamado de “segunda pandemia”.
Ainda assim, falar sobre saúde mental é um tabu social e pode deixar alguns colaboradores desconfortáveis e constrangidos (na melhor das hipóteses) ou aterrorizá-los (na pior das hipóteses). No entanto, quanto menos as pessoas falam sobre isso, mais o estigma cresce e, por isso, para quebrar esse ciclo é necessário que você aborde a questão de forma proativa, estratégica e amigável.
A saúde mental no ambiente de trabalho, presencial ou remoto, é um assunto de grande relevância para qualquer empresa de sucesso. De acordo com a Federação Mundial de Saúde Mental, um em cada cinco profissionais apresentam diminuição da concentração, perda de memória e fadiga; e os gestores têm a responsabilidade de tornarem este ambiente um espaço aberto e seguro para os seus colaboradores, permitindo que levem o seu eu completo para as atividades exercidas.
Cada colaborador deve conseguir exercer com êxito suas competências, recuperar-se do estresse do dia a dia e sentir-se produtivo. Afinal, uma organização é formada pela força de seus funcionários, que trabalham para alcançar objetivos e conquistar reconhecimento em nome da empresa, certo?
Exerça uma liderança compreensiva ao identificar colaboradores que estejam enfrentando problemas pessoais e, para evitar que estes tenham perda de saúde mental causada pela própria empresa, implante estratégias de prevenção, manutenção e recuperação de saúde mental, desde palestras motivacionais até ajustes no ambiente de trabalho que forneçam mais autonomia, confiança e bem-estar a todos. Outro ponto essencial é o respeito as crenças e valores de cada um. O respeito a diversidade é fundamental.
Investindo em saúde mental
- Entenda o perfil e as condições emocionais de seus colaboradores e procure apoio profissional especializado.
- Não sobrecarregue seus funcionários, oriente-os a fazerem pausas curtas, de cinco a dez minutos a cada uma ou duas horas, para que possam descansar;
- Mantenha seus colaboradores engajados, oferecendo benefícios e incentivos. Desta forma, eles se sentem mais motivados e valorizados;
- Promova programas que estimulem atividades esportivas. Exercícios físicos liberam endorfina e outras substâncias responsáveis pelo prazer e bem-estar, portanto devem ser considerados pelas empresas preocupadas com a saúde física e mental de seus funcionários;
- Crie um ambiente de trabalho saudável com boa ergonomia; controle de temperatura, luminosidade e ruídos; quantidade de horas efetivas de execução de tarefas; entre outros. Algumas empresas têm permitido que funcionários administrem o próprio horário de trabalho. Nem sempre é uma mudança simples, mas pode promover um alto ganho em produtividade e qualidade de vida;
- Estimule práticas de técnicas mentais como meditação e atenção plena.
O mundo atual já esgota cada indivíduo com o acúmulo de responsabilidades e é normal que os colaboradores se estressem com os estilos de gerenciamento, prazos curtos e preocupações externas ao ambiente de trabalho. Sozinho o colaborador pode não conseguir concentrar-se na própria saúde, mas com o auxílio de uma boa gestão, pode colocar em prática ações que melhorarão sua saúde mental, especialmente no trabalho.
*Elen Contro, sócia da Humano Mais, e Beatriz Venâncio, jornalista parceira da Humano Mais
